Adaptação comportamental: uma pista para a deficiência visual?

A deficiência visual, ou seja, quando a visão da pessoa não pode ser melhorada com óculos ou lentes de contato, não deve ser considerada uma consequência inevitável do processo natural de envelhecimento.¹ É mais do que a perda da capacidade de ler letras em uma tabela; afeta a capacidade de enxergar no escuro e a velocidade de leitura.

Com frequência, uma deficiência visual pode passar despercebida pela própria pessoa, já que ela aprende a lidar com o problema e se adapta, especialmente se o outro olho não estiver afetado. Por isso, é essencial darmos atenção a mudanças aparentes de comportamento em membros da família, amigos e colegas, que são possíveis indicadores de comprometimento da sua visão.2

Uma das causas mais comuns de deficiência visual é o desenvolvimento de uma doença ocular, especialmente comum nos idosos. Doenças como a degeneração macular relacionada à idade (DMRI), atrofia geográfica – uma forma avançada de edema macular diabético (EMD) – e doenças oculares diabéticas, incluindo retinopatia diabética e edema macular diabético, todas causam deficiência visual se não forem tratadas.3

As pessoas que sofrem dessas doenças costumam ter dificuldade para:2

  • Ler livros, jornais e rótulos

  • Avaliar distâncias e reconhecer sinais

  • Dirigir, especialmente em situação com pouca luz

  • Identificar cores

  • Reconhecer a fisionomia dos amigos e familiares

  • Realizar tarefas que exijam visão de perto, como cozinhar ou costurar1-2

Consequentemente, muitas pessoas que sofrem de deficiência visual podem usar estratégias para lidar com o problema e se adaptarem. Essas alterações comportamentais incluem, entre outras:2

  • Semicerrar os olhos, inclinar ou virar a cabeça para olhar objetos

  • Aproximar o texto ou o livro, para ler mais de perto

  • Mover-se com hesitação próximo aos móveis e outros obstáculos em casa

  • Reduzir a participação ativa em compromissos sociais e sair menos de casa

Finalmente, uma das consequências mais devastadoras da deficiência visual e da progressão da doença é a perda da independência. À medida que a deficiência visual progride, os familiares podem constatar que já não é possível para a pessoa cozinhar, limpar ou se mover em casa sozinha, com segurança, sem correr riscos indevidos de queda ou traumatismo.2 Há também diversas questões psicológicas associadas à deficiência visual. Não é incomum que a pessoa com esse tipo de deficiência sinta ansiedade, seja em relação à deficiência visual ou prevendo o avanço do problema no futuro, além de frustração, aborrecimento e vergonha por não ser capaz de realizar suas tarefas cotidianas.4-5 Por conta dessa perda de independência e do crescente isolamento social, cerca de um terço das pessoas com DMRI apresentam quadro clínico de depressão.4

É importante estarmos conscientes das alterações comportamentais relacionadas à deficiência visual – não apenas as nossas, mas as dos outros – já que elas nem sempre são imediatamente reconhecíveis. Fundamentalmente, as mudanças comportamentais devem servir de motivação para buscar aconselhamento médico, e por isso se recomendam os exames oftalmológicos anuais.1 Uma intervenção precoce com tratamento apropriado e suporte leva à preservação da visão e a uma vida mais saudável e feliz.

Referências

  1. IAPB. Ageing and the Eye [Internet; citado em novembro de 2018]. Disponível em: https://www.iapb.org/knowledge/what-is-avoidable-blindness/ageing-and-the-eye/.

  2. Lions Center for the Visually Impaired. Coping with Visual Impairment. [Internet; citado em novembro de 2018]. Disponível em: http://www.seniorvision.org/resources/coping with-visual-impairment

  3. Flaxman SR, Bourne RRA, Resnikoff S, et al. Global causes of blindness and distance vision impairment 1990-2020: a systematic review and meta-analysis. Lancet Glob Health. 2017; 5:1221-1234.

  4. MedScape. Visual Impairment: Understanding the Psychosocial Impact. [Internet; citado em novembro de 2018]. Disponível em:

  5. Hassell JB, Lamoureux EL, Keeffe JE.. Impact of age related macular degeneration on quality of life. Br J Ophthalmol. 2006; 90:593–6

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