Nas últimas décadas, houve significativa evolução nos conhecimentos das características da artrite reumatoide (AR), acarretando mudanças na forma de abordagem e na terapêutica da doença. O conceito de artrite reumatoide inicial ou precoce é definido, pela maioria dos autores, como a fase de até 12 meses de sintomas da doença, período em que o início de uma terapia adequada resultaria em melhora clínica acentuada e evitaria sequelas1.
Para o diagnóstico da doença, métodos laboratoriais e de imagem foram desenvolvidos, contribuindo para diagnóstico mais precoce e determinação do prognóstico. Na fase precoce, o fator reumatoide (FR) ainda é o marcador sorológico mais utilizado para diagnóstico da AR inicial1.
Ele é um anticorpo que está presente no sangue do paciente e que reage contra as imunoglobulinas G, uma proteína do nosso organismo. Classicamente relacionado à artrite reumatoide, ele é encontrado em cerca de 50-70% dos pacientes, e níveis mais elevados estão associados com doença agressiva, presença de nódulos reumatoides e manifestações extra-articulares2.
Embora muito importante no diagnóstico da doença, o exame possui baixa sensibilidade, já que cerca de 30% a 50% dos pacientes podem ser soronegativos para esse anticorpo. Além disso, ele também possui uma especificidade limitada. Isso porque o fator reumatoide pode ser positivo em pessoas com diversas outras condições, reumatológicas ou não2.
A dosagem do fator reumatoide é feita a partir de uma pequena amostra de sangue que deve ser coletado em laboratório, onde será realizado o teste para identificar a presença do anticorpo. No entanto, se o teste for positivo, não significa necessariamente que se trata de artrite reumatoide3.
É o que ocorre em algumas enfermidades autoimunes, como a síndrome de Sjögren – doença em que o sistema imunológico ataca glândulas produtoras de lágrima e saliva, além de poder causar artrite crônica, simulando artrite reumatoide –, a sarcoidose, além de males infecciosos (como a tuberculose) e câncer, entre outras3.
A presença do fator reumatóide no sangue é um dos itens que compõem os critérios classificatórios do Colégio Americano de Reumatologia1. Isso demonstra a importância desse autoanticorpo para o diagnóstico, mas não esconde a necessidade de utilizar-se de uma boa anamnese, exame físico e outros métodos diagnósticos complementares para esse fim.
Texto por: Raquel Prazeres
Revisão e supervisão médica: Dr. Breno Álvares de Faria Pereira | CRM–GO: 6128
Reumatologista e pediatra; ex-fellow researcher de Reumatologia do Children’s Hospital of Philadelphia (EUA); mestre pelo IPTSP-UFG; professor assistente da Faculdade de Medicina da UFG
Referências:
da Mota LMH, Neto LLS, Burlingame R, Laurindo IMM. Comportamento distinto dos sorotipos do fator reumatoide em avaliação seriada de pacientes com artrite reumatoide inicial. Rev Bras Reumatol. 2009;49(3):223-235.
da Mota LMH, Cruz BA, Brenol CV et al. Diretrizes para o diagnóstico da artrite reumatoide. Rev Bras Reumatol. 2013;53(2):141-157.
Sociedade Brasileira de Reumatologia. Fator reumatoide está ligado a várias doenças [Internet]. Acessado em: 28 jul 2020. Disponível em: